HECATOMBE NUCLEAR – DIANTE DO RISCO: OS EVENTOS EM CHERNOBYL E FUKUSHIMA

Figura 1: Reator de Chernobyl. Fonte: Veja.


Acidentes envolvendo usinas nucleares já ocorreram algumas vezes em nossa história recente. A título de informação, seguem alguns dos mais representativos:

  • Kyshtym (URSS), 1957 – explosão, com nuvem de gás, com 200 mortes e evacuação sem explicações de dez mil pessoas;
  • Bohunice (Tchecoslováquia), 1977 – superaquecimento do combustível, sem dados sobre número de vítimas;
  • Three Mile Island (EUA), 1979 – Por falha humana, que resultou em evacuação de cerca de 140 mil pessoas;
  • Erwin (EUA), 1979 – vazamento de urânio, o qual contaminou cerca de mil pessoas.
  • Tsuruga (Japão), 1981 – contaminou 278 pessoas;
  • Tomsk-7/Seversk (Rússia), 1993 – cidade que na época não constava nos mapas (devido à importância nuclear) e atualmente isolada, com número desconhecido de contaminados na época do acidente;
  • Tokai (Japão), 1997 – acidente com 37 pessoas contaminadas. Outro acidente, no mesmo local, ocorreu em 1999, resultando na contaminação de mais de 600 pessoas;
  • Mihama (Japão), 2004 – vazamento que resultou em cinco funcionários mortos;
  • Tricastin (França), 2008 – contaminação leve de 100 pessoas.

Além destes, também temos os casos mais emblemáticos em Chernobyl e Fukushima, discutidos a seguir.


O ACIDENTE NA ESTAÇÃO ELÉTRICA ATÔMICA DE TCHERNOBIL


O incêndio na usina da URSS em abril de 1986 lançou materiais radioativos a até um quilômetro e meio de altura. Caso a situação se agravasse, poderia acontecer uma reação termonuclear dezenas de vezes maior que a bomba atômica lançada em Hiroshima. Milhares de trabalhadores foram deslocados para tentar conter o incêndio e, mesmo expostos poucos minutos à radiação, “muitos homens receberam cargas radioativas e mais tarde foram vítimas de doenças que muitas vezes se revelaram mortais” (GORBACHEV, 2003, p. 39).

Com a desintegração da União Soviética, seu território deu origem a três repúblicas: Rússia, Bielo-Rússia e Ucrânia. “A Bielo-Rússia foi a que mais sofreu, pois recebeu 70% das precipitações da nuvem radioativa” (GORBACHEV, 2003, p. 40).

“A catástrofe de Chernobyl produziu uma radioatividade considerável: centenas de vezes mais matérias radioativas lançadas do que em Hiroxima. Médicos e geneticistas nos falaram longamente sobre os efeitos das doses fracas de radio-atividade em dezenas de milhões de pessoas que vivem, bebem, se alimentam e se reproduzem em um meio contaminado: tumores cancerígenos, cardiopatias, fadigas crônicas, doenças inéditas e sentimento de desamparo afetam uma população imensa, e, no meio dessa, sobretudo crianças e jovens. E temem-se efeitos irreversíveis sobre o genoma humano” (DUPUY, 2007).

Em 27 de abril de 1988, o químico soviético Valery Alexeyevich Legasov, um dos encarregados de fazer relatório acerca do vazamento no reator, cometeu suicídio, provavelmente afetado pela depressão diante do episódio.

Além disso:

“Cerca de uma década após o acidente de Chernobil, em 1986, foi registrado um aumento de mais de 10 vezes na incidência de câncer de tireóide, resultando cumulativamente em mais de mil novos casos diagnosticados em crianças que viviam nos territórios da Bielorrússia, Rússia, e Ucrânia, afetadas pela chuva radioativa” (DEMIDCHIK; SAENKO; YAMASHITA, 2007).

TSUNAMI E OS DANOS NO COMPLEXO DAIICHI-FUKUSHIMA


Desde a década de 1960, foram registrados, ao menos, sete acidentes nucleares de grandes proporções, sendo o mais recente em 11 de março de 2011, onde a ocorrência de um tsunami de cerca de 15 metros de altura (ocasionado por um terremoto de 9 graus na escala Richter) danificou os diques de proteção, afetando o funcionamento dos reatores das usinas nucleares da região. A onda gigante inviabilizou o impediu o acionamento do sistema de emergência (a diesel) que resfriava os reatores após o terremoto, ocorrendo o derretimento de seus núcleos e liberando radioatividade para o ambiente, forçando a evacuação de cerca de cem mil pessoas, além de provocar discussão mundial acerca dos perigos do uso deste tipo de fonte de energia elétrica.

Figura 02 – Monges budistas rezam por vítimas (estimadas em 19 mil) do terremoto. Fonte: Yuriko Nakao, Reuters.

A empresa responsável montou uma escala de trabalho para limpeza e descontaminação com quase 6 mil pessoas. Outra das medidas de contenção foi a pintura dos prédios dos reatores, para “fixar a poeira radioativa nas fachadas” e construção de enorme andaime de aço para evitar que o reator quatro desabasse (WELLE, 2014). Também mantém constante o bombeamento de água a fim de resfriar as barras de combustível derretidas. No final do ano passado, o governo japonês divulgou que um funcionário da Central de Fukushima foi diagnosticado com câncer, o que pode estar relacionado ao acidente. Em fevereiro, a empresa veio a público se desculpar por ocultar por dois meses o fato dos reatores terem entrado em fusão logo após o tsunami.

Schmidt, Horta & Pereira (2014) observam que o apoio público a esta tecnologia “é influenciado por múltiplos fatores, incluindo o conhecimento pré-existente, atitudes, emoções, valores, normas, crenças, opiniões dos pares, confiança e informação veiculada pela mídia”. Estes autores investigam a imprensa internacional entre 2008 e 2012 e mostram que, neste período, a mídia deu pouca atenção à pesquisa de fusão nuclear; entretanto, fissão nuclear foi um assunto frequente, em especial na época do acidente de Fukushima – e em geral sob o caráter político, em detrimento ao caráter ambiental (principalmente na participação de ativistas ambientais) e sob ponto de vista negativo no período do referido acidente. Os pesquisadores consideram que:

“O principal efeito de Fukushima no enquadramento temático da energia nuclear consistiu em uma mudança de foco dos assuntos de rotina a respeito desta tecnologia (tais como o uso militar, resíduos, política energética, etc.), para o tópico dos acidentes e crises, segurança, gestão de risco e riscos ambientais associados aos desastres nucleares (…) após o desastre de Fukushima, a imagem da fissão nuclear transmitida pela mídia deteriorou-se substancialmente” (SCHIMIDT; HORTA; PEREIRA, 2014).


PARA SABER MAIS:


Montagem acelerada dos testes nucleares realizados ao redor do mundo no séc. XX:



Por Anelissa Carinne dos Santos Silva


REFERÊNCIAS


BRASIL, Eletrobras. O acidente nuclear na Central de Fukushima Daiichi. Disponível em: <http://www.eletronuclear.gov.br/Saibamais/Perguntasfrequentes/TemasgeraisoacidentenaCentraldeFukushima.aspx>. Acessado em Mar 2016.

DEMIDCHIK, Y. E.; SAENKO, V. A.; YAMASHITA, S. Câncer de tiróide na infância na Bielorússia, Rússia, e na Ucrânia, após Chernobil e atualmente. Arq Bras Endocrinol Metab, vol.51, no. 5. São Paulo, jul. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302007000500012&lang=pt>. Acessado em Mar 2016.

DUPUY, J-P. A catástrofe de Chernobyl vinte anos depois. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142007000100019&lang=pt>. Acessado em Mar 2016.

GAZETA DO POVO. Operadora admite ter escondido gravidade de desastre em Fukushima. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/operadora-admite-ter-escondido-gravidade-de-desastre-em-fukushima-3zq2d4dadech19tgse5jq0xha>. Acessado em Mar 2016.

GLOBO. Maiores acidentes nucleares da história. Disponível em: <http://educacao.globo.com/artigo/maiores-acidentes-nucleares-da-historia.html>. Acesso em Mar 2016.

GORBACHEV, M. Meu Manifesto pela Terra. SP: Planeta, 2003.

HUKAI, R. Y. Lições do Japão Sobre Energia Nuclear. Estud. av. Vol. 27, no. 78. São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000200017&lang=pt>. Acessado em Mar 2016.

SCHMIDT, Luísa; HORTA, Ana; PEREIRA, Sérgio. O desastre nuclear de Fukushima e os seus impactos no enquadramento midiático das tecnologias de fissão e fuso nuclear. Ambiente & Sociedade, vol. 17, no. 4, São Paulo Oct/Dec. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X2014000400017&lang=pt>. Acessado em Abril 2016.

UOL. Top 10: piores acidentes nucleares. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/internacional/listas/top-10-os-maiores-acidentes-nucleares.jhtm>. Acessado em Mar 2016.

WELLE, Deutsche. Fukushima ainda luta contra sequelas do acidente. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/internacional/fukushima-ainda-luta-contra-sequãelas-do-acidente-nuclear-4990.html>. Acessado em Mar 2016.

Postar um comentário

0 Comentários