E antes de Sócrates?

Figura 1: Acima estátua de Sócrates.
Ao falar a palavra filosofia, certamente virá na mente de muitos um nome: Sócrates. O grande filósofo ateniense foi, de fato, um marco não somente na filosofia, mas também, na história. Introduziu na filosofia grega um pensamento mais voltado ao homem e seu próprio conhecimento, daí a famosa frase: conhece-te a ti mesmo.

Apesar disso, Sócrates não foi o primeiro filósofo Grego como alguns pensam. Existiu uma série de filósofos anteriores ao pensador ateniense que influenciaram o grande mestre. Como vieram antes de Sócrates, são chamados de pré-socráticos.

Ao contrário do que se pode imaginar, os pré-socráticos não eram da Grécia propriamente dita. Estes filósofos surgiram nas colônias gregas da Ásia Menor e na Itália meridional, na Sicília. Eles eram gregos, mas seus ancestrais fugiram da invasão dórica na Grécia e criaram cidades nestes locais.

Os antecessores a Sócrates foram essencialmente filósofos da natureza. Eles romperam a tradição dos mitos e começaram a procurar compreender a natureza a partir do pensamento racional. Perseveraram em problemas cosmológicos buscando a essência do Universo. Alguns deles ainda acreditavam em uma divindade, mas de uma forma mais complexa, de tal forma que em certas ideias destes pensadores é difícil distinguir se trata-se de um Deus ou uma espécie de força constitutiva do Universo. No entanto, ainda que concebessem certa divindade, tais filósofos não se contentavam apenas em afirmações esparsas sobre o divino, procuravam entender a essência, a natureza, o ser da divindade, pois, segundo eles, estaria mesclada ao Universo. Assim, conhecer a natureza do divino era conhecer a natureza do Universo, bem como conhecer a natureza do Universo era conhecer a divindade.

Certo, mas quem foi então o primeiro filósofo grego? Essa é uma pergunta que não tem resposta definitiva. No entanto, Tales, VI a.C., é considerado por muitos como o primeiro filósofo. Tales de Mileto, o matemático? Sim, este mesmo. Nesta época os matemáticos eram filósofos, aliás, nem existiam ainda “matemáticos”, haviam pensadores que refletiam o conhecimento, sendo uma parte deste a matemática. 

Na Grécia antiga, Tales não ficou conhecido pelo famoso “Teorema de Tales”. O seu feito mais admirado entre os gregos, e ainda hoje, é a frase “O princípio de todas as coisas é a água”. Como assim, tudo é água? Isso mesmo, Tales acreditava que tudo era formado por água; a água era o elemento gerador do Universo.

Diante do conhecimento que temos hoje sobre o Universo, isso pode parecer um tanto quanto simples demais. Entretanto, em uma época abarrotada de mitologia, em que tudo era interpretado através de deuses, este pensamento de Tales foi de encontro ao modo que o homem explicava a natureza e abriu caminho para outros pensadores que usavam a razão para desvendar o Universo.

Com Tales é iniciado um novo momento na história, em que a mente é a fonte do conhecimento humano. Já não importa tanto o que se toca, ou se vê, ou ainda o que se ouve, o importante é a razão. Se em algum momento a razão contrariar os sentidos, a razão que será seguida. Muito da ciência teórica foi desenvolvida através disso, mas também esta posição trouxe algumas doutrinas esquisitas. Isso, no entanto, não veremos agora, será objeto de estudo em textos posteriores. Até mais!

Por Daniel Messias Linck


REFERÊNCIAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora Nacional,1.ªedição,1926.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: Ed. Paulus, 1990.

ADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.

Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.

Postar um comentário

2 Comentários