O QUE É MODERNIZAÇÃO CONSERVADORA?

Figura 01: Pintura comemorativa, representando a proclamação do Segundo Império (Reich) Alemão. Fonte: Wikimedia.

O CAMINHO PARA A MODERNIZAÇÃO


Qual é o caminho para a modernidade? De fato, pode-se dizer que existe mais de uma forma de levar adiante o desenvolvimento. O pesquisador Barrington Moore Jr. (1913-2005) investigou a trajetória de diversos países rumo ao desenvolvimento industrial, apontando alguns fatores importantes na passagem das sociedades que a população dependia principalmente do campo e da agricultura para um estágio em que as cidades e a indústria passam a ser um elemento preponderante para a referida sociedade como um todo.

Assim, seu estudo indica que alguns países, tendo passado por agitações que poderíamos chamar de “revoluções burguesas”, colocaram em xeque as tendências centralizadoras do poder, favorecendo o florescer de experiências democráticas com maior participação da população na substituição de leis arbitrárias e na elaboração de leis mais justas (MOORE, p. 478). Este seria o caso de países como os Estados Unidos, a França e a Inglaterra que, através de conflitos bastante violentos, como a guerra Civil Americana, a Revolução Francesa e a Revolução Puritana, viram crescer a influência de grupos sociais com bases econômicas independentes.

Estes grupos, mais favoráveis ao capitalismo e à democracia, conduziam a sociedade de maneira que, à medida que a economia no molde capitalista ia se estabelecendo, ocorria o desmantelamento da sociedade rústica anterior.

Em outros países, como a Rússia, a nobreza não se direcionou ao desenvolvimento de uma agricultura comercial, conservando “suas propriedades e seu poder sobre os servos” (MOORE, 482), assim, ao mesmo tempo que se distanciava do czarismo, evitava também uma revolução de caráter burguês. De maneira análoga, a sociedade chinesa ficou, também, impedida de se organizar mais democraticamente, acumulando as tensões das massas camponesas de forma a eclodirem em revoluções que levariam ao estabelecimento de ditaduras comunistas.

Um terceiro conjunto de países experimentou um certo crescimento das atividades comerciais e industriais sem que houvesse uma ampla modificação das estruturas sociais, no sentido de uma democracia parlamentar. Neste grupo estariam, por exemplo, a Alemanha e o Japão, que tiveram um grande avanço industrial no início do século XX, contando com uma aproximação entre parcelas das seculares elites proprietárias de terras (como os Junkers alemães ou os samurais japoneses) e os comerciantes e industriais que conquistavam importância.

Figura 02: Aproximação entre samurais e soldados do exército imperial no período final do Xogunato. Fonte: Wikimedia.

A convergência dos interesses destes grupos sociais elevados contra camponeses e operários teve um efeito reacionário – enfatizado pela lealdade para com os superiores, pelas noções tradicionais de honra e pelo repúdio ao trabalho e às atividades geradoras de lucro. A preservação destes elementos da ética militar entre a nobreza foi um obstáculo à criação de uma sociedade livre formada por pessoas teoricamente iguais, o que levou à passagem por um período democrático instável que culminaria em regimes de orientação fascista.

No caso alemão, a “revolução vinda de cima” contou com o apelos patrióticos contra inimigos estrangeiros para, através da exaltação das tradições militares aristocráticas, canalizar a lealdade das populações em direção ao Estado unificado em torno da fortalecida monarquia prussiana dos Hohenzollern. (MOORE, p. 503-506)

Soma-se ao estímulo à indústria de armamentos, a formação de uma estrutura burocrática e repressiva, em que os militares e a polícia mantém em xeque os grupos que podem oferecer resistência à centralização dos poderes, ocasionando uma separação entre “governo e sociedade”. Como sugeria um ditado alemão, mencionado por Barrington Moore Jr., “contra os democratas só os soldados” (MOORE, p. 508).

Os japoneses, por outro lado, perceberam que seria inevitável aderir aos novos processos industriais para preservar o país diante de ameaças estrangeiras. A Restauração Meiji contou com a separação de uma parcela dos samurais, que passaram a se opor ao Xogunato Tokugawa, aliando-se ao imperador.

Algumas das medidas estabelecidas durante o Xogunato exigiam que os poderosos samurais – os daimyo – residissem com suas famílias na capital Edo, aumentando suas despesas e, como eram proibidos de exercer qualquer atividade comercial, os menores deles foram ficando à margem da sociedade. Alguns destes samurais empobrecidos adotavam e tornavam herdeiro algum filho de rico mercador; outros, acabaram por cortara seus vínculos, se tornando ronin que vagabundeavam dispostos a empreendimentos violentos; outros ainda se tornaram comerciantes eles próprios.

A região de Choshu se tornou um refúgio para os ronin, enquanto a região de Satsuma – a “Prússia do Japão” – mantiveram mais fortes os laços feudais e, com o enfraquecimento do Xogunato, acabaram por se aproximar do imperador. De maneira semelhante ao que ocorreu na Alemanha, esta aproximação levou ao à preservação de antigas estruturas de privilégios das antigas elites.

Por Tiago Henrique da Luz

PARA SABER MAIS...

E o Brasil, em qual destes modelos de desenvolvimento se enquadraria?

DOMINGUES, José Maurício. A dialética da modernização conservadora e a nova história do Brasil
Dados, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, p. 459-482, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582002000300005&lng=en&nrm=iso>. Acessado em:  Julho de 2015. 

Diniz, E. (2010). Estado, variedades de capitalismo e desenvolvimento em países emergentes. Desenvolvimento em Debate, 1(1), 7-27. Disponível em <http://www.ideiad.com.br/seminariointernacional/arquivo7.pdf>  Acessado em Julho de 2015.


REFERÊNCIAS

MOORE, Barrington, Jr. As origens sociais da ditadura e da democracia : senhores e camponeses na construção do mundo moderno. Santos: Martins Fontes, 1967.

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