POLUIÇÃO DA ÁGUA, TOXICOLOGIA E SAÚDE AMBIENTAL

Por: Anelissa Carinne Dos Santos Silva

Figura 01– Poluição de um Rio. Fonte: fronteirageografica.blogspot.com

Os ambientes aquáticos vêm sofrendo constantes pressões por parte do ser humano, onde muitos indivíduos conservam o pensamento de que a água é um bem privado e infinito. “Nos últimos 60 anos, a população mundial duplicou, enquanto o consumo de água multiplicou-se por sete” (MORAES, 2002).

São três os principais grupos das possíveis fontes de contaminação das águas: esgotos, resíduos de origem agropecuária e de origem industrial.


ESGOTOS

Os esgotos domésticos possuem detritos orgânicos, restos de alimentos, gorduras, fosfatos, etc. Grandes centros urbanos necessitam de um maior fornecimento de água, produzindo assim uma maior quantidade de resíduos líquidos. Esta maior quantidade de detritos (principalmente fosfatos presentes em detergentes) pode significar mais alimento para certas algas, que ao se reproduzirem em excesso, consomem todo o alimento, morrendo logo a seguir. Assim, a quantidade de algas presentes na superfície de água aumenta consideravelmente, causando um efeito denominado eutrofização. Este aumento considerável da quantidade de algas faz com que o consumo de oxigênio aumente em muito, prejudicando assim os organismos aquáticos, que morrem por asfixia. Estas algas também podem produzir toxinas que atacam o fígado e o sistema nervoso dos seres humanos, e além disso:

Inúmeras pesquisas têm detectado freqüência anormalmente alta de neoplasias em peixes em regiões industrializadas. (…) Aumento estatisticamente significativo de mutações cromossômicas foi verificado em plantas coletadas ao longo de um rio contaminado, quando comparadas a plantas crescendo em região não contaminada. (…) Foram encontradas, também, elevadas freqüências de células aberrantes em sistema-teste vegetal (Allium cepa) tratado com águas de efluente municipal que desemboca às margens do rio Paraguai, no pantanal sul-matogrossense, comprovando a genotoxicidade dessas águas (MORAES, 2002).
Figura 02 – Esgoto sem Tratamento. Fonte: www.vivaterra.org.br


AGROPECUÁRIA

O uso de fertilizantes de modo desordenado apenas vem contribuir para o aumento da poluição dos recursos hídricos.

O gás de amônia, presente no esterco, irrita olhos e vias respiratórias, lesiona células nervosas e sanguíneas – podendo levar o indivíduo a óbito, sendo que os seres mais atingidos são os peixes. O estrume, ao chegar aos lençóis freáticos, também aumenta a contaminação das águas. O ideal seria usá-lo para compostagem.

Fertilizantes, facilmente arrastados da lavoura para os rios através das águas das chuvas, contribuem para o processo de eutrofização, além de provocar males à saúde humana, como intoxicação, diarreia e dores de cabeça.

Para reduzir a poluição, deve-se diminuir a quantidade e frequência de uso de fertilizantes, evitar plantações em locais inclinados e esperar as raízes das plantas estarem desenvolvidas para utilizar tais compostos.

O uso de praguicidas para combater insetos, fungos e ervas daninhas também contaminam as águas. Estes tóxicos podem ser propagados pelo vento, limpeza incorreta dos materiais de aplicação, pela chuva, etc.

As águas contaminadas por praguicidas afetam os peixes, o alimento que será consumido por outros animais, inclusive pelo ser humano, causando nestes alergias, feridas expostas, câncer, problemas no fígado e rins, dentre outros. A fiscalização para o limite de uso destas substâncias e campanhas para a correta aplicação são de extrema importância.


O CASO DA CONTAMINAÇÃO DE BOVINOS

A bactéria Clostridium botulinum produz as toxinas botulínicas, das quais os tipos C e D são as mais frequentes como causa da morte de bovinos.

Estas bactérias são propagadas principalmente por cadáveres de outros bovinos contaminados que estejam em contato com a água utilizada por outros animais. Dutra et al. (2001) analisa as amostras retiradas de certas fazendas, chegando ao seguinte resultado: “O coeficiente médio de mortalidade nos surtos descritos foi de 20,1%, oscilando de 1,7 a 52,5%, com letalidade de 99,92%. A morbidade foi de 31,62%.”

Assim, percebe-se que o descuido em relação à contaminação da água (aliada à deficiência de fósforo nas pastagens) favorece a transmissão da bactéria, uma das principais causas de morte de bovinos no Brasil.


INDÚSTRIAS

Compostos orgânicos e inorgânicos despejados de modo incorreto pelas indústrias aumentam a poluição da água.


Figura 03 – Resíduo Industrial Pega Fogo na China : Fonte: noticias.r7.com

Em casos de despejo de petróleo, o qual forma uma película sobre a superfície da água, as plantas aquáticas não conseguem fazer trocas gasosas, peixes e caranguejos são impedidos de respirar, aves perdem a impermeabilidade das penas, plantas terrestres não absorvem nutrientes do solo e o Homem além de outros animais terrestres tem o aparelho digestivo afetado.

Os detergentes, especialmente emulsionantes e desinfetantes, são muito tóxicos para os peixes. Sugere-se o uso de detergentes biodegradáveis.

Outros produtos muito tóxicos para humanos e peixes são os fenóis, compostos encontrados nos resíduos de indústrias e hospitais. Plantas aquáticas e bactérias podem ajudar a degradar estes compostos.

Entretanto, derivados de naftalenos e difenilos policlorados não são degradados naturalmente e causam sérias intoxicações no ser humano, além de lesões em sua pele.

Metais pesados (mercúrio, cádmio, zinco, níquel, cobalto, etc.) provocam quadro clínico próprio, que pode demorar a aparecer, com sintomas como: paralisação progressiva dos órgãos dos sentidos, redução do número de glóbulos vermelhos, redução do cálcio dos ossos, pouca resistência a infecções e até mesmo levar a óbito. Tal distúrbio ambiental eleva o nível de eutrofização nos corpos d´água. Necessita-se de fiscalização mais rigorosa e campanhas de conscientização acerca dos riscos em usar tais elementos químicos.

Um exemplo de contaminação por mercúrio é relatado por DIAS (2002, pág. 12):

“Em 1968, apareceram os efeitos mais dramáticos da poluição. Crianças nasceram cegas, mudas e deformadas por causa do mercúrio despejado por indústrias químicas, na Baía de Minamata (Japão). O mercúrio atingiu a população humana por meio da cadeia alimentar (mariscos e peixes absorveram o mercúrio e transmitiram para as pessoas que deles se alimentaram). Encontrava-se mercúrio até no leite materno.”

OUTRA FONTE DE CONTAMINAÇÃO: A RADIAÇÃO

A poluição ambiental por radiação deve-se principalmente a testes e acidentes, ocorridas principalmente nas décadas de 1950 e 1960. Dos materiais, os que se destacam são césio-137, estrôncio-90 e plutônio-239.

A forma mais comum de dispersão destes materiais se dá por fatores biológicos, além de fatores químicos e físicos.

“O estrôncio-90, em adição, poderá participar no equilíbrio com carbonato e devido a similaridade química com o cálcio, sofrer uma ação de fixação no meio marinho, podendo ser adsorvido nos sedimentos, ossos e carapaças de animais marinhos e corais, e no homem, este elemento estará presente nos ossos (…) No Brasil existem dados sobre a concentração de césio-137 em água de mar e peixes em vários pontos da costa, do Pará até o Rio Grande do Sul” (FIGUEIRA, 1998).


PARA SABER MAIS:

Embaixada do Japão no Brasil. O caso de contaminação por mercúrio na baía de Minamata: http://www.br.emb-japan.go.jp/cultura/ambiente.html

REFERÊNCIAS

DIAS, G. F. Iniciação à Temática Ambiental. SP: Gaia, 2002.

FELLENBERG, G. Introdução aos Problemas da Poluição Ambiental. SP: EPU, 1980.

FIGUEIRA, R. C. L.; CUNHA, I. I. L. A Contaminação dos Oceanos por Radionuclídeos Antropogênicos. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40421998000100012&lang=pt>. Acessado em Set 2014.

MEC, MMA. Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005.
MORAES, D. S. L.; JORDÃO, B. Q. Degradação de Recursos Hídricos e Seus Efeitos Sobre a Saúde Humana. Disponível em:

<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102002000300018&lang=pt>. Acessado em Out 2014.
DUTRA, I. S., DÖBEREINER, J., ROSA, I. V., SOUZA, L. A. A., NONATO, M. Surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à ingestão de água contaminada. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2001000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em Jun 2014.

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