Floresta Pluvial Tropical da Costa Atlântica Brasileira!

Por Felipe Veiga

Figura 1: Floresta Atlântica. Fonte: pg1com.com


A definição dos limites da Floresta ou Mata Atlântica no Brasil é um ponto bastante controverso entre estudiosos do caso. Segundo Fernandes (2003. p, 18), em um sentido mais amplo, o termo Floresta Atlântica pode referir-se praticamente a todo conjunto de formações florestais extra-amazônicas brasileiras. A Floresta Pluvial tropical da costa atlântica brasileira é um dos mais ricos biomas da terra e umas das prioridades mundiais de conservação. Não é uma floresta homogênea, suas formações vegetais variam conforme o terreno e altitudes onde se encontram. Certas características, no entanto, são comuns a todas estas formações, como o fato de serem florestas sempre verdes (perenifólias), cujos componentes em geral apresentam folhas largas (latifoliadas) e crescem em ambientes muito úmidos (ombrófias). Essa diversidade de vegetação, solos e altitudes define seus diversos ecossistemas associados que estão intimamente ligados entre si: floresta ombrófila densa nebulosa (floresta de altitude), floresta de encosta, floresta de planície, restinga, praias e dunas, costão rochoso, manguezal e mar. Interferências na floresta certamente causarão distúrbios na restinga ou na praia, assim como modificações na área litorânea terão conseqüências no equilíbrio dos outros ecossistemas. Os níveis de endemismo deste bioma são bastante expressivos: 53% das espécies de árvores da Floresta Atlântica e 77% de outras plantas são endêmicas. Abrigam também 1361 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, dos quais 567 são endêmicos. Das 202 espécies da lista oficial da fauna brasileira ameaçadas de extinção, 171 ocorrem na Floresta Atlântica. Por tudo isso é que a área de Floresta atlântica denominada Serra da Graciosa – Vale do Ribeira foi declarada oficialmente pela UNESCO, em 15 de fevereiro de 1993, como componente da primeira Reserva da Biosfera criada no Brasil. 

A região lagamar (complexo estuarino-lagunar) abriga uma das maiores concentrações de manguezais da terra (18 mil hectares), totalmente preservados, constituindo-se num dos mais importantes criadouros de espécies marinhas do Atlântico Sul.  A Floresta atlântica é a segunda floresta mais ameaçada do planeta, atrás somente das Florestas de Madagascar, no leste da África. No Paraná, ela caracteriza-se por ocorrer em áreas sujeitas a temperaturas relativamente elevadas e à alta precipitação. Árvores de grande porte (até 30m de altura), associadas a um denso sub bosque formado por espécies de várias formas biológicas, principalmente epífitas e lianas. Conforme critérios altimétricos e pedológicos, neste tipo vegetacional podem ser reconhecidas cinco subformações: Floresta Ombrófila Densa Aluvial, de Terras Baixas, Submontana, Montana e Altomontana. O limite entre essas é variável conforme a latitude considerada, e vias de regra, não existem diferenças fisionômicas abruptas entre cada uma das situações.  No Paraná, tais limites situam-se aproximadamente entre as seguintes cotas altimétricas: floresta de terras baixas: entre 5 e 50m; floresta submontana: entre 50 e 500m; floresta altomontana: acima de 1000m, até os limites de ocorrência de floresta. As florestas aluviais ocorrem de forma mais marcante na planície costeira, acompanhando o curso médio inferior dos rios mais extensos da bacia Atlântica. 

FLORESTA OMBRÓFILA MONTANA (FLORESTA DE ENCOSTA)

As subformações denominadas de “submontana” e “montana” ocorrem de forma bastante típica nas regiões baixas e intermediárias das encosta da Serra do Mar, respectivamente. Costuma-se dizer que estas representam a expressão máxima em termos de estrutura e composição florística da Floresta Atlântica no sudeste e sul do Brasil.  Os solos normalmente presentes nestas subformações em geral são relativamente mais profundos e desenvolvidos do que em outras formações, predominando os latossolos e os podzólicos, sendo também comuns os cambissolos, geralmente em áreas de maior declividade, e litossolos, estes muitas vezes com ocorrência pontual em meio a outros tipos. O escalonamento proporcionado pela disposição das copas das árvores do dossel em diferentes níveis, consequência de feições topográficas inclinadas a fortemente inclinadas, gera uma boa penetração lumínica nestas subformações, fator que, associado à alta umidade presente nestas regiões, ocasiona o aparecimento e a manutenção de comunidades epifíticas bastante ricas e abundantes, o que talvez seja o traço mais marcante destas formações ao longo de suas respectivas áreas de ocorrência.

Famílias como Orchidaceae, Bromeliaceae, Araceae, Gesneriaceae, Piperaceae e Polypodiaceae, constituem os grupos predominantes nestas comunidades, tanto em riqueza como em abundância de espécies. Os demais componentes das subformações submontana e montana (estratos arbóreos superior e inferior, arbustivo e herbáceo) são relativamente similares, com diferenças sucintas sobretudo na abundância de algumas espécies, sendo citado, como exemplo, algumas espécies preferenciais de solos mais úmidos que são mais comuns na subformação submontana, enquanto espécies preferenciais de locais com melhor drenagem no solo são mais freqüentes na subformação montana. 

INTERAÇÃO ENTRE FAUNA E FLORA

Figura 2: Tucano de bico verde. Fonte: wikimedia.com.
O palmito-doce ou juçara (Euterpe edulis), é uma planta característica da floresta pluvial atlântica, onde ocorria de maneira expressiva,  apresentando uma distribuição bastante regular em toda floresta, tanto nas planícies aluviais, quanto nos vales e encostas. Floresce a partir do mês de setembro e prolonga-se até dezembro. A maturação dos seus frutos ocorre durante o outono e inverno, justamente entre os meses de abril e agosto, onde há uma diminuição de oferta de alimento para uma grande parcela da fauna da floresta. Os tucanos-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus), estão entre os maiores consumidores e dispersores da semente desse palmito, porque regurgitam os caroços em diversos pontos da floresta. Devido à sua exploração predatória, esta palmeira já está ameaçada de extinção, o que também afeta a sobrevivência da ave. 

O elevado grau de umidade da floresta favorece o desenvolvimento de inúmeras epífitas, dentre estas, as bromeliáceas, que se apoiam sobre os troncos e galhos das árvores. São exclusivas do continente americano e a Floresta Atlântica e os seus ecossistemas associados, constituem o bioma mais rico em plantas dessa família. As bromélias e as orquídeas são muito importantes para a fauna que vive nos galhos e copas das árvores. Dentre os animais que se integram na comunidade epífita, está uma perereca, Hyla albomarginata, que se especializou nesse tipo de habitat. Visitantes frequentes de orquídeas, como a Sophronites coccínea, estão os beija-flores, tais como o Thalurania glaucopis. Com o corte das árvores, as epífitas desaparecem e com elas toda a fauna associada. A árvore mata-pau-de-espinho, Spirotheca passifloroides, é característica e exclusiva da floresta pluvial da Costa Atlântica. Ocorre no interior de mata primária, encostas e fundo de vales. Suas flores, durante meses de junho-agosto, são uma importante fonte de néctar para os beija-flores.

Figura 3: Beija flor em helicônia. Fonte: virtude-ag.com.
No continente americano as helicônias são polinizadas exclusivamente pelos beija-flores. Cerca de 80% da alimentação destas aves é constituída do néctar de helicônias na época de sua floração. A bananeirinha-do-mato, Heliconia hirsuta, atrai com sua coloração amarela e vermelha beija-flores como o beija-flor-de-veste-preta, Anthracothorax nigricollis e o beija-flor-de-banda-branca, Amazilia versicolor. A flor-de-cera, Psichotria nuda, além do seu elevado valor ornamental, é uma excelente fonte de néctar para os beija-flores. 

Os fungos também desempenham uma função importantíssima no movimento cíclico dos minerais na Floresta. Trocam com vegetais, fósforos e outros minerais, por carboidratos. Sem os fungos a maioria das arvores da floresta não poderia sobreviver. Alguns fungos em forma de chapéu, servem de apoio ao sapo-chifrudo, Proceratophrys boiei.

FAUNA ASSOCIADA

AVES

Figura 4: Jacutinga (Pipile jacutinga). Fonte: The Internet
Bird Collecttion
A Floresta Atlântica é, seguramente, um dos biomas mais ricos em número de espécies de aves em todo o mundo, competindo apenas com a Amazônia e algumas regiões dos Andes e sudoeste asiático. Se somadas as espécies que vivem no lato sensu da Floresta, chegamos a contabilizar quase 1.100 espécies de aves. No mundo inteiro são computadas cerca de 9.200, logo, só nesse bioma, vive quase 12% da avifauna do Planeta. A jacutinga, Pipile jacutinga,  habita normalmente a parte alta da floresta, realizando migrações para as partes mais baixas sempre a procura do seu alimento predileto, o fruto do palmito que amadurece mais cedo nas baixas altitudes e é uma espécie ameaçada de extinção. A Cambacica (Coereba flaveola), tal qual os beija-flores, é nectarívora. Porém, como não consegue parar no ar como fazem os beija-flores, agarram-se às flores com os pés e com seu bico curvo e pontiagudo perfura o cálice atingindo os nectários. O beija-flor-grande, Ramphodon naevius, é o maior beija-flor da Floresta Atlântica. Visita flores de bromélias, heliconias e bananeiras em matas virgens fechadas. Constrói seu ninho nas pontas da face inferior das folhas de palmeiras ou bananeiras.

ANFÍBIOS

Figura 4: Hyla faber. Fonte: bionaturalwork.blogspot.com.
Cerca de 600 espécies são conhecidas para o Brasil, das quais cerca de 100 são conhecidas  para o estado do Paraná, porém, a identificação da fauna de anfíbios em seus diferentes aspectos biológicos é pequena. A perereca, Hyla albomarginata, utiliza lagoas permanentes e banhados, sempre em áreas abertas para sua reprodução. Elas também possuem comportamento arborícola, apresentando hábitos noturnos ou crepusculares. A perereca-verde, Phyllomedusa distincta, é também chamada de perereca-macaco, pela habilidade e postura que adota, para “escalar” os galhos das arvores. A diminuição da sua população e dos anuros em geral, ocasionada pelas agressões continuas do seu habitat, certamente irá causar um desequilíbrio na população de insetos. A “perereca-de-inverno”, Hyla bischoffi, ocorre na região meridional da Mata Atlântica. Durante o período de acasalamento, é encontrada em corpos de água permanente. Sua atividade reprodutiva decresce na época de verão quando outras espécies estão ativas. A “perereca-ferreira”, Hyla faber, é uma das maiores espécies de anfíbios do sul do Brasil. O macho desta espécies constrói ninhos de barro circulares nas margens das poças de onde emitem um canto parecido com a batida de um martelo em uma lata para atrair a fêmea.

A rã-chorona, Physalaemus olfersi, é de pequeno porte e seu canto lembra uma criança chorando. Constrói pequenos ninhos de espuma em áreas alagadas. O sapo-cururu-pequeno, Bufo crucifer, é uma espécie de sapo comum na floresta encontrado em rios, lagos e poças, em áreas alternadas. Seus ovos estão dispostos em ambiente aquático em forma de cordões gelatinosos.

RÉPTEIS

Figura 5: Lagarto teiú.
Fonte: http://roywildphoto.blogspot.com.br/.
A Floresta Atlântica não se encontra plenamente isolada dos demais biomas brasileiros. Em diversos pontos, ela se afasta da costa oceânica, transpõe as reservas e penetra o interior, fazendo  contato com diversos ambientes exclusivos. A fauna de répteis da Floresta, portanto, não é uma unidade completamente distinta dos demais ambientes que ocorrem no Brasil, embora esta possua um bom número de espécies que lhe são exclusivas. Entre os répteis desse bioma estão o jacaré-do-papo-amarelo, Caiman latirostris; lagartinho, Placosoma cordylinum; Camaleãozinho, Enyalius iheringii. O lagarto teiú, Tupinambis merianae, é o maior lagarto que vive no solo da Floresta.  Encontramos algumas serpentes; Caninana, Spilotes pullatus; Jararacuçu, Bothrops jararacuçu; Cobra-come-lesma, Dispas neivai; Boipevinha, Xenodon neuwiedii.

INVERTEBRADOS

Figura 6: Morpho helenor. Fonte: O autor.
A diversidade de ambientes da Floresta oferece condições de vida a uma grande variedade de insetos. Os artrópodes representam cerca de 70% das espécies conhecidas do reino animal. São fundamentais no ciclo de renovação da floresta, polinizando as flores, dispersando as sementes e na destruição das partes vegetais mortas, fornecendo resíduos que são novamente absorvidos pelas plantas vivas.  A aranha Thomisidae, Epicadus heterogaster, tem a forma de uma flor para enganar seus predadores. Os opiliões têm grande importância no nível detritívoro da cadeia trófica. As esperanças Orthoptera e Tettigoniidae apresentam uma diversidade grande de aparência e formas de vida. alimentam-se de folhas, flores, frutos e pequenos insetos. Muitas espécies de borboletas são encontradas; Placidula euryanassa; Heliconius sara apseudes; Heliconius ethila narcaea. As borboletas da família Ithomiinae, como a Ithomia drymo, de asas translúcidas, são uma das maiores riquezas da Floresta. Os machos, na época da reprodução, atraem as fêmeas por meios de feromônios obtidos das flores das quais se alimentam. A borboleta corujão, Caligo brasiliensis, é um dos mais belos insetos desta floresta. Os grandes ocelos desenhados nas suas asas posteriores lembram os olhos das corujas e servem para confundir os predadores. Mede cerca de 8 cm e é um dos maiores Lepidópteros da Floresta. Os mais importantes herbívoros da Floresta são as larvas dos insetos. Por representarem uma grande ameaça para as plantas, estas mantêm uma verdadeira guerra química contra outros insetos e outros animais herbívoros. Produzem imensa variedade de substancias de sabor ruim, tais como: taninos, cianetos, cafeína, estricnina, e nicotina, entre outras.



PEIXES

Figura 7: Leptilebias. Fonte: notícias.uol.com
Entre mais de 50 espécies registradas nos rios da Floresta Atlântica, pelo menos 90% ocorre somente no trecho que vai do norte de Santa Catarina ao litoral sul de São Paulo e em nenhum outro lugar do mundo.  A maioria das formas pertencem a ordem siluriformes (cascudos e bagres), peixes que não possuem escamas, tendo o corpo coberto por pele nua ou placas dérmicas. Nos ambientes de fundo, entre rochas, troncos e folhas, esgueira-se de predadores e desenvolvem suas atividades de alimentação e reprodução. Entre as mais de 20 espécies de cascudos, podemos observar peixes adultos de três a trinta centímetros de comprimento. Em remansos e saídas de corredeira da maioria dos rios da região, nadando em profundidades intermediarias, podem ser observados os lambaris. Embora pertencentes a uma espécie típica das bacias litorâneas, seguem a dieta básica dos congêneres de outras bacias, alimentando-se de frutos, sementes e insetos. Os saicangas, habitantes dos mesmo ambiente, alimentam-se preferencialmente de outros peixes. Em tocas circulares, localizadas no fundo ou nas zonas marginais, pode-se encontrar um peixe muito peculiar, frequentemente confundido com uma serpente – o mussum, Symbranchus marmoratus, Em coleções d`água do chão das florestas de planície, cheios de folhas e material vegetal em putrefação, esconde-se os mais coloridos e extravagantes componentes da fauna de peixes de água doce do litoral, representados por espécies dos gêneros Rivulus e Leptilebias. Por viverem em ambientes inundados após chuvas intensas, algumas espécies desse grupo são conhecidas como peixes de nuvem e completam seu ciclo de vida em menos de um ano.

MAMÍFEROS

Os representantes desse grupo participam de uma variedade de interações interespecíficas, entre as quais se destacam a dispersão e a predação de sementes, a polinização de flores e a predação de muitas espécies da fauna. Nesse sentido, é evidente a sua importância na regulação das comunidades vegetais e animais e, por consequência, no equilíbrio dos ecossistemas e manutenção da biodiversidade. Os mamíferos estão representados por cerca de 4.500 espécies no mundo, sendo que 524 ocorrem nos diferentes biomas brasileiros. Na floresta atlântica, foram registradas até o momento 230 espécies, muitas das quais endêmicas, como é o caso de vários marsupiais, roedores e primatas. São várias as ordens e envolvem Marsupiais, preguiças, tamanduás, tatus, morcegos, primatas, carnívoros, golfinhos, veados, catetos e queixadas, antas, ratos-do-mato, capivaras, pacas, cutias, lebres e tapitis.

Figura 8: Marsupial - família Didelphidae. Fonte: O autor.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RENATO, Carlos Fernandes. Floresta Atlântica – Reserva da Biosfera. Curitiba, 2003.

Mata Atlântica (Floresta Pluvial Costeira). 2013 < http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/27468/mata-atlantica-floresta-pluvial-costeira> Data de Acesso: 11/11/13.

A Mata Atlântica. SOS Mata Atlântica. < http://www.sosma.org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica/> Data de acesso: 12/11/13.

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