Cadeia produtiva local do Turismo!

Por Ararê de Azambuja Vilanova Junior


A análise de cadeias é uma ferramenta que permite identificar, dentro de determinados processos produtivos, os principais pontos de agregação de valor ao produto final. Com isso, podem-se distinguir os pontos críticos que freiam a competitividade dos produtos, bem como os que a dinamizam, para estabelecer e impulsionar estratégias de consenso entre os principais atores envolvidos visando a superação dos gargalos inerentes ao processo produtivo. Cadeia produtiva é o sistema constituído por atores e atividades inter-relacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação, comercialização e consumo em um entorno determinado. Pela sua visão prospectiva, Castro, Lima e Cristo (2002) apontam que o enfoque de cadeia é pertinente no contexto atual de evolução da economia mundial globalizada, em que temas como competitividade, inovação tecnológica e sistemas de produção são discutidos de forma sistêmica em todos os âmbitos da economia, desde as atividades produtivas agroalimentares até o setor de Serviços, no qual se inclui o turismo. Uma atividade econômica tão dinâmica e complexa como o turismo encontra no enfoque sistêmico de cadeia uma importante ferramenta para o diagnóstico e a formulação de estratégias de competitividade.

Sachs (1986), afirma que a distinção entre desenvolvimento e mau desenvolvimento é que, embora ambos possam sustentar-se pela mesma taxa de crescimento econômico, estes se diferenciam nitidamente em termos da composição do produto final, das “taxas de exploração da natureza”, e dos tipos da intensidade e da distribuição de custos sociais.

Sob o prisma do mau desenvolvimento, a chamada “indústria do turismo”, coloca a questão econômica acima das questões socioambientais. Assim, prima-se o sujeito chamado turista e sua demanda por necessidades, ao invés da população receptiva que, nas poucas ocasiões que é relevada, é analisada sob a perspectiva de sua oferta de bens e serviços (SAMPAIO, 2005).

O termo “cadeia produtiva” vem sendo muito utilizado para definir certos aspectos relacionados a um conjunto de negócios e firmas. Isso se deve, de um lado, à rápida evolução das relações entre empresas nas últimas décadas no que se refere às transações produtivas e comerciais a jusante e a montante – que são a base para a definição de cadeia produtiva, e, de outro, ao fato de o termo poder simplificar discussões a respeito da organização de uma indústria. Por isso, pode haver uma vasta gama de significados e de aplicações do termo, o que exige cuidado quando de sua utilização em contexto específico. Pode-se afirmar que uma cadeia produtiva é um conjunto de atividades econômicas, articuladas de forma seqüencial no processo produtivo, em que um produto é crescentemente elaborado na tentativa de agregação de valor. Essas atividades podem ser organizadas em ou entre firmas, a partir do que são estabelecidas relações de compra e de venda.

Como o material para pesquisa na área de cadeia produtiva é limitado, a pesquisa também permeia pela área do arranjo produtivo local (APL) e pelos clusters que possuem semelhanças em suas definições e aplicabilidade. Podendo assim colaborar para a análise e formatação do artigo.

SUZIGAN, GARCIA e FURTADO (2005) salientam que a definição de APLs não é tarefa trivial e nem isenta de controvérsia, uma vez que eles podem assumir diversas características que dependem de sua história, evolução, organização institucional, contextos culturais e sociais, localização da sua estrutura produtiva, organização industrial, formas de governança, associativismo, cooperação entre os atores, formas de aprendizado e grau de difusão do conhecimento especializado local.

Apesar das dificuldades, Cassiolato e Lastres (2003, p. 27) definiram os APLs como:

[...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.

O conceito de APLs é amplo o suficiente para abranger qualquer tipo de indústria ou especialização. Ele não aponta para a intensidade das especializações das empresas, para as atividades que estão sendo incluídas e nem para a abrangência geográfica onde as empresas estão operando. CASSIOLATO e LASTRES (2003, p 33) salientam que:

O argumento básico do conceito adotado pela Rede é que onde houver produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um arranjo em torno da mesma [...]. Tais arranjos variarão desde aqueles mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados. Desta forma consideramos que o número de arranjos produtivos locais existentes no Brasil seja tão grande quanto à capacidade produtiva nacional permita.

Um aspecto importante de ser sublinhado é o fato de que os APLs, na visão de LASTRES e CASSIOLATO (2003), também contemplam as pequenas e médias empresas, que poderão, dependendo da sua integração ou organização e da existência de cooperação relacionada à atividade principal do conjunto dessas empresas, vir a se constituir num APL. A lógica desse processo está na obtenção local de economias de escala, fruto do aumento da capacidade produtiva e competitiva das empresas, e na busca pela redução de custos dos insumos.

Para esclarecer algumas dúvidas conceituais, vamos iniciar definindo dois conceitos básicos: clusters e arranjo produtivo local (APL). 

Clusters são concentrações geográficas de firmas setorialmente especializadas, principalmente de pequeno e médio porte (PMEs), onde a produção tende a ocorrer verticalmente desintegrada. Esses ambientes contêm serviços especializados, tanto de apoio às atividades produtivas como voltados à comercialização em mercados distantes [...], e redes de instituições públicas e privadas que sustentam as ações dos agentes, tendo em vista que representam e envolvem a organização de auto-ajuda (self help). Em muitos casos, observa-se a presença de identidade sociocultural, relacionada ao passado comum dos membros das sociedades locais, que contribui para galvanizar as relações entre os atores (LINS, 2000). 

Aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, cliente, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também, diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (ALBAGI; BRITO apud HIRATA, 2005, p. 56).

Não é difícil encontrar na literatura os termos cluster e APL definidos como rede de cooperação. No entanto, Kremer e Kovaleski explicam a diferença entre esses dois conceitos da seguinte forma:

Cluster – rede de empresas com forte poder cooperativo, associativo e muitas vezes consorciado, situado em uma determinada região geográfica, podendo ou não pertencer a um mesmo setor e conversando intensamente entre si e com entidades governamentais e não governamentais acrescidas de pesquisa e desenvolvimento constante.

Arranjo produtivo local (APL) – trata-se de um cluster que absorve questões da área social e cultural (KREMER; KOVALESKI, 2005, p. 192).

Arranjos Produtivos Locais – são aglomerações de empresas com a mesma especialização produtiva e que se localizam em um mesmo espaço geográfico. As empresas dos APLs mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si, contando também com apoio de instituições locais como Governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

É interessante lembrar que a ideia de cooperação não é nova. Segundo Hirata (2005), Marshall em 1982 já defendia que a proximidade geográfica das empresas possibilitava o surgimento de outras atividades subsidiárias, gerando um processo de conhecimento por meio das relações entre elas e seus fornecedores, criando condições para uma interação cooperativa no sentido da superação de problemas em comum. De toda forma, parece que a confiança entre os envolvidos tem fator importante para a busca de fortalecimento das relações entre as empresas.

De acordo com Tribe (2003), o ambiente econômico afeta as organizações no setor do turismo de dois modos principais. Primeiro, as mudanças no ambiente econômico podem interferir na demanda dos produtos de uma organização e, em segundo, elas podem afetar os custos da organização. Além disso, fatores de segundo plano, como preços de propriedades também podem impactar de forma significativa.

A cada dia aumenta a quantidade de grupos que começam a se organizar para gestão e comercialização de novos produtos turísticos, buscando participar mais fortemente do mercado. Comunidades e grupos associados começam a trilhar oportunidades de inclusão nos roteiros turísticos, fortalecendo seus movimentos culturais, gastronômicos e folclóricos. Desta forma, os que se vêem menos beneficiados pelo modelo tradicional de turismo – onde predomina a falta de comprometimento com os princípios do turismo sustentável – encontram nesta lacuna oportunidades que permitem adaptar as condições econômicas dos pequenos rendimentos, na tentativa de incluir-se no circuito do consumo e da geração de renda. 

Esta forma de comercialização caracteriza uma rede de economia solidária, onde o conjunto de etapas necessárias para a transformação e transferência de insumos – o que envolve produção, distribuição e comercialização de bens e serviços – é realizado por empreendimentos econômicos que necessitam encontrar mecanismos de assegurar a tomada de decisão democrática – que já é realizado internamente aos empreendimentos – no conjunto da cadeia. Tal gestão participativa fortalece as comunidades envolvidas de forma social, cultural e econômica.  

REFERÊNCIAS

CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. M. Arranjos e Sistemas Produtivos Locais na Indústria Brasileira. 2000. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/revista/pdfs/arranjos _ e _ sistemas _produtivos _locais _na_ industria_brasileira.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2008.

CASTRO, Antônio M. G. de; LIMA, Suzana M. V.; CRISTO, Carlos M. P. N. Cadeia produtiva: marco conceitual para apoiar a prospecção tecnológica. Salvador, 2002. Apresentado ao 22º Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica, Salvador, 2002. Disponível em: <www.desenvolvimento.gov.br/arquivos/dwnl1197031881.pdf>. Acesso em: jul./2004.

HIRATA, N. Relações Universidade-Empresas e lições dos APLs de Cianorte e Apucarana. In: Arranjos Produtivos Locais no Paraná. Curitiba: IEL, 2006.

TRIBE, J. Economia do Lazer e do Turismo. São Paulo, Ed. Manole, 2003. 

KREMER, A.; KOVALESKI, J. L. De uma rede de empresas a um arranjo produtivo local: o estudo da vocação do município de Ponta Grossa para o segmento de confecções. In: Arranjos Produtivos Locais no Paraná. Curitiba: IEL, 2006.

LINS, H. N. Clusters industriais, competitividade e desenvolvimento regional: da experiência à necessidade de produção. Estado Econômico, São Paulo, v. 30, n.2, pp. 233- 265, abr./jun. 2000.

SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986.

SAMPAIO, C. A. C. Turismo como fenômeno humano: princípios para se pensar a socioeconomia. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2005.

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