Ícones femininos na História!

Por Elaine Barbosa


IDADE ANTIGA


As mulheres na idade antiga seguem uma trajetória onde se tornam deusas e são adoradas ou, em outros casos, a própria personificação do mal, situação que terá perspectiva de mudança somente na Idade Moderna, quando sua longa jornada em  busca de reconhecimento social começa a render resultados.

As deusas na antigüidade tinham o papel de demonstrar ao homem na terra como agir. Elas poderiam ter desde a guarda das estações do ano e o crescimento das vegetações como, também, o poder da paz, da disciplina e da justiça, a estas denominadas Horas.

Nas mãos das Erínias ou Furias (para os Romanos) ficava a punição dos mortais, por meio de castigo, vingança e rancor. Com as Moiras (3 irmãs) permanecia a decisão do destino do homem, determinando a época de morte de cada um. E, para as Musas, era atribuída a inspiração e a criação artística e científica. 

Muitas mulheres destacaram-se como sábias, filósofas e matemáticas na Idade Antiga, sendo agentes de grande importância para o desenvolvimento do pensamento atual. Entre destacam-se:


  • Diotima de Mantinea: Filósofa e sacerdotisa grega; 
  • Temistocléia: Filósofa e matemática. Tornou-se a primeira mulher na história a qual o termo FILÓSOFA foi aplicado. É considerada a mestre de Pitágoras;
  • Teano: (séc. VI a.C.): Filósofa e matemática grega. Foi aluna de Pitágoras. Criou a Teoria do Meio-Termo (todos os excessos são considerados vícios); 
  • Asioteia de Filos (393 – 270 a C): Ensinava física na Academia de Platão ao lado de outras mulheres que a frequentavam ;
  • Hipárquia de Maroneia: Aristocrata, é elogiada pela sua cultura e raciocínio, sendo comparada a Platão. Escreveu: “Cartas e Tragédias”; 
  • Maria, a judia, ou Miriam (séc. I d C): Viveu em Alexandria, é considerada como a fundadora da alquimia. Entre seus escritos figura livro de Magia Prática. Atribui-se a ela a descoberta do ácido clorídrico e, em homenagem às suas descobertas, batizou-se o processo de aquecimento conhecido como banho-maria. Dentre as invenções de Maria está o Tribikos (uma espécie de alambique com três braços que foi utilizado para obter as substâncias purificadas por destilação), o Kerotakis (dispositivo usado para aquecer substâncias utilizadas na alquimia e recolher os vapores. É um recipiente hermético com uma folha de cobre suspensa no topo); 
  • Hipátia de Alexandria: Matemática e filósofa, nascida aproximadamente em 355 e assassinada em 415. O fato de Hipátia ser uma filósofa pagã é tido como um dos fatores que contribuíram para o seu assassinato. Em 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada por uma turba de cristãos enfurecidos. Foi arrastada pelas ruas até uma igreja, onde foi cruelmente torturada até a morte. Depois de morta, o corpo foi lançado à fogueira. Entre suas obras: - Comentário a Aritmética de Diofanto; Sobre as cônicas de Apolônio de Perga; Corpus Astronômico e inventou o densímetro (aparelho que mede a massa específica de um líquido).


IDADE MÉDIA


As duas visões antagônicas da Idade Antiga ainda persistem, mas recebem uma nova interpretação, pautadas pela ascensão do Cristianismo. A mulher vista como personificação do mal foi comparada à Eva, que induziu Adão a comer a maçã e permitiu ser enganada pela serpente (personagem que representa o diabo). Através deste prisma, muitas mulheres são denominadas bruxas, sendo queimadas, enforcadas, afogadas, além de outras punições pois qualquer manifestação de atos que iriam contra a crença cristã era considerada heresia. 

Abaixo, cita-se alguns nomes femininos associados a esta visão presentes no Antigo Testamento pois, por meio de suas atitudes ambiciosas, desobedientes, vaidosas e não submissas a Deus ou a seus esposos, consistem em exemplos negativos e que não devem ser seguidos.

  • Dalila: Filistéia amada por Sansão, a quem traiu, revelando a origem de sua força, entregando-o nas mãos de seu povo;
  • Jezabel: Idólatra, dominadora, perversa e perseguidora de santos;
  • Vasti: Rainha, insubmissa ao marido e ao Rei, perdeu a coroa e o marido;
  • Herodias: adúltera e assassina de santos, através de sua filha, Salomé, obteve autorização de Herodes e mandou matar João Batista. 

Na segunda visão a figura feminina é colocada como santificada, face ao papel imaculado de uma mulher que dá a luz ao salvador do mundo, o qual inicia sua jornada na terra e pratica os milagres especificados na Bíblia. Desta forma, a mulher torna-se um ser puro e muitas são santificadas e beatificadas em prol de uma nova visão da interpretação bíblica. 

  • Maria: a mais forte personalidade feminina do Novo Testamento. É a Santíssima Mãe dos católicos e, escolhida por Deus para ser mãe de seu filho Jesus; 
  • Isabel: a mulher humilde, mãe de João Batista e prima de Maria; 
  • Madalena: a mulher transformada e a quem o Nazareno apareceu; 
  • Cananéia:  mulher gentia-grega, siro-fenícia de sangue. Mulher de fé e perseverança, que leva Jesus a modificar seu plano de ação, curando a sua filha, muito embora as Escrituras dissessem da vinda do Salvador para sarar os filhos doentes de  Israel;  
  • Tabita: a viúva generosa, rica em boas obras e esmolas que dava, foi ressuscitada por Pedro em Jope. 

Longe das personalidades bíblicas, a Igreja teve em sua história heroínas que lutaram pela sua fé, seja auxiliando na educação de seus filhos, seja empunhando a espada, dedicando-se cada qual a seu modo, à causa cristã.

  • Santa Mônica: mãe de Santo Agostinho. Responsável pela formação da conduta moral e religiosa do filho, o modelo da tarefa pedagógica vital de incutir pudor, mansidão e todas as condutas cristãs. Torna-se exemplo de comportamento virtuoso. 
  • Santa Genoveva Genezieve: dedicou-se aos Cristianismo desde os 7 anos.  Aos 28, pela sua virtude e força de caráter, convenceu os habitantes de Paris a não abandonarem a cidade nem a entregarem aos pagãos. É a padroeira da Cidade Luz. 
  • Joana D'arc: aos 13 anos, afirma ouvir vozes divinas pedirem-lhe que salvasse a França. É presa em Maio de 1430 e entregue aos ingleses que a acusam de bruxarias. Mártir francesa, canonizada em 1920, foi a heroína da Guerra dos Cem Anos, que ajudou a libertar a França do domínio inglês. Submetida a um tribunal católico, é condenada à morte e queimada viva, com 19 anos. A revisão de seu processo começa a partir de 1456 e a Igreja Católica beatifica-a em 1909. Em 1920, é declarada Santa.  

IDADE MODERNA


Na Idade Moderna, as mulheres ainda continuavam sob a submissão masculina, não eram reconhecidas ainda como participantes da sociedade mas sim, apenas como um objeto útil para os deleites masculinos, sendo-lhes negado o conhecimento e a literatura. O lar era o local de seus domínios e os afazeres domésticos, educação dos filhos e cuidados com seu esposo, suas tarefas primordiais. Mas, mesmo assim, algumas se destacam dentro desta paisagem como inovadoras, tornando-se pensadoras, eruditas e soberanas, incutindo o início de uma nova visão da posição da mulher na sociedade.  Surgem textos, livros e manifestações em apoio à liberdade feminina e a conscientização da sociedade da época de que deve-se valorizar a mulher como ser humano capaz de pensar, agir e escolher o seu destino. Demonstrando que havia na fragilidade uma grande capacidade de mudança e liderança destacam-se:

  • Isabel de Castela: Em 1474 é coroada rainha de Castela. No ano de 1469 se casa com Fernando II, segundo na linha de sucessão pelo trono de Aragão; no seu reinado foi publicada a Primeira Gramática Castelhana pela escola palaciana criada pela Rainha e foi realizada a primeira viagem de Colombo. Estabeleceu o Tribunal da Santa Inquisição e morreu, deixando a coroa para sua filha Joana, a Louca. 
  • Teresa de Jesus (de Ávila): A partir de 1562 começa a fundar monastérios das carmelitas descalças. Ao longo de sua vida funda 32 monastérios, sendo 17 femininos e 15 masculinos. Santa Teresa morreu em 1582. Logo após sua morte, o corpo da Santa exalava um suave  perfume de rosas. 
  • Catarina de Medicis: Foi mãe de 3 reis da França, Francisco II, Carlos IX e Henrique III e influente na vida política por mais de trinta anos. Foi nomeada regente de Carlos IX, portando-se com desmando e tirania. Favorável aos católicos, declarou-se contraria aos huguenotes, protestantes franceses e levando seu filho a promover o massacre da “noite de São Bartolomeu”. Ordenou a ampliação do Louvre e contribuiu para o engrandecimento da cidade. Ampliou o acervo da Biblioteca de Paris com manuscritos da Grécia e da Itália. 
  • Louise Labé: Poetisa francesa cuja principal obra é o "Debate da Loucura e do Amor" de 1555, na qual defende uma pauta "feminista": direito das mulheres à educação, à liberdade de pensamento e a escolha de parceiros. 
  • Oliva Sabuco Nantes Barrera: Espanhola, Filósofa da Renascença e precursora na medicina psicossomática. Entendeu o quão importante seria reunir conceito e práticas filosóficas à medicina, sinalizando que a cosmologia teria a faculdade de comprometer a saúde humana.
  • Elizabeth I: Filha de Henry VIII e Ana Bolena. Seu reinado foi de paz e prosperidade, comercial e culturalmente. Ficou conhecida como “a rainha virgem”. Seu governo foi denominado Período Elisabetano ou Era Dourada, caracterizando-se por crescimento e pela efervescente criatividade artística, principalmente na dramaturgia, com Christopher Marlowe e William Shakespeare. Na navegação, houve avanço e vitórias, principalmente com o capitão Francis Drake, primeiro inglês a dar a volta ao mundo. 
  • Dandara: Guerreira negra do período colonial do Brasil, esposa de ZUMBI. Lutou ao lado do marido pela libertação dos escravos. Suicidou-se depois de presa, para não voltar a posição de escrava.
  • Maria Gaetana Agnesi: Matemática, filósofa e linguista italiana. Escreveu o primeiro livro que englobou cálculo diferencial e integral, além de ter escrito, em latim, a obra Proposições Filosóficas, publicada em Milão em 1738.  É chamada de notável por uma suma densa e ao mesmo tempo clara de análise algébrica e infinitesimal na obra Instituições Analíticas.
  • Mary Wollstonecraft: Escritora influenciada por Locke e Rousseau. Redigiu “Pensamentos sobre a Educação das Filhas”. Em 1792, escreve “A Reivindicação dos Direitos das Mulheres” extraordinário tratado político-filosófico.
  • Olímpia de Gouges: Se colocou em defesa das minorias, redigindo mais de quatro mil páginas de textos revolucionários, peças de teatro, panfletos, novelas, sátiras, utopias e filosofia. Em sua obra ressaltam-se: “Carta ao Povo”, “Os Direitos da Mulher e Cidadã”. Protestou contra a escravidão negra; colocou-se a favor dos direitos da mulher (divórcio, maternidade, educação e liberdade religiosa). Foi presa por defender os abusados  e degradados, agindo com afinco e maestria, foi condenada a morte na guilhotina
  • Bárbara Heliodora: Foi a primeira poetisa brasileira. Culta e revolucionária, mostrou-se com brio e coragem. Aos 20 anos apaixona-se pelo poeta Alvarenga Peixoto. Bárbara e Alvarenga participaram da organização da inconfidência do país.

REFERÊNCIAS

Clemente de Alexandria, Stromata, Livro IV, Capítulo XIX, Mulheres, assim como homens, são capazes de perfeição.

Lynn M. Osen. Women in Mathematics. [S.l.]: MIT Press, 1975. ISBN 9780262650090 

Mulheres que Mudaram o Mundo.

Spinelli, Miguel. "Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega". 2ª ed., Porto Alegre: Edipucrs, 2003, pp.116-117 

WAITHE, Mary Ellen. The history of women philosophers. Volume I. Londres: Kluwer. 

www.brasilescola.com/sociologia/mulher-moderna. 

www.cafehistoria.ning.com/.../as-lutas-e-conquistas-das -mulheres.

www.colegioweb.com.br/historia/periodo neolitico.

www.cristinadepizan.com 

www.revista história viva, edição especial, nº 3, p. 13.

www.sca.org.br/biografias/stahildegarda.pdf 

www.webartigos.com/articles/3781/1mulher-o-feminino-atraves-dos-tempos/pagina1-html

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