Cartografia pessoal: os mapas mentais!

Por Lawrence Mayer Malanski

Os mapas são tidos como as mais antigas representações do pensamento geográfico. Eles se configuram como representações adaptadas da realidade que proporcionam noções de conjunto dos elementos espaciais. Estima-se que os primeiros mapas datam de cerca de seis mil anos antes de Cristo, sendo que a evolução cartográfica conta a história e as mudanças do conhecimento humano de mundo, suas técnicas, práticas socioculturais e valores (KOZEL, 2007).

As diferentes abordagens geográficas do espaço proporcionam diversas práticas cartográficas, como os tradicionais mapas temáticos impressos, os mapas digitais e a cartografia mental. Os estudos de percepção e representação do espaço realizados pela Geografia Humanista necessitam de instrumentos e estratégias capazes de materializar subjetividades como sentimentos, opiniões e atitudes sobre o espaço vivido e imaginado. Nesse contexto os mapas mentais ganham importância.

Kozel (2007) entende os mapas mentais como enunciados (textos) elaborados por pessoas e grupos e que representam suas “visões de mundo” (ver figura 1). A partir desta reflexão, a pesquisadora define mapas mentais como “uma representação do mundo real visto através do olhar particular de um ser humano, passando pelo aporte cognitivo, pela visão de mundo e pela intencionalidade” (KOZEL, 2007, p. 121). 

Figura 1: Exemplo de mapa mental elaborado a partir de paisagens sonoras. Fonte: MALANSKI, 2011.

Convém diferenciar mapas mentais de mapas conceituais, elementos que são comumente confundidos. Os mapas conceituais se desenvolveram a partir do conceito de aprendizagem significativa, referindo-se a uma técnica desenvolvida por Joseph Novak na década de 1970 que tem por objetivo relacionar e hierarquizar conceitos (ver figura 2). De outro modo, os mapas mentais se desenvolvem livremente, são associacionistas e não se atém a relações entre conceitos (MOREIRA, 2005).

Figura 2: Exemplo de mapa conceitual. Esse tipo de mapa se diferencia dos mapas mentais por relacionar e hierarquizar conceitos. Fonte: NUNES, 2009
Diferentemente da cartografia tradicional, os mapas mentais não são representações espaciais sujeitas às regras cartográficas de projeção, escala ou precisão, mas representações da mente humana e que precisam ser lidas como processos e não como produtos estáticos (SEEMANN, 2003b). A leitura de todo material cartográfico envolve o processo inverso de sua construção, pois com ela se busca a decodificação dos conteúdos de forma expressiva. Para leitura de mapas mentais, pode-se utilizar uma metodologia criada a partir de aspectos propostos por Simielli (1999) e Kozel (2007) composta por quatro fases:

  • Forma de representação e distribuição dos elementos mapeados: forma de representação dos elementos em ícones, linhas, polígonos, letras, palavras, números etc. e distribuição desses elementos em quadros, com ou sem perspectiva, isolados, na horizontal ou vertical, na parte superior ou inferior no mapa;
  • Análise dos elementos mapeados: especificidade dos elementos (representação dos elementos da paisagem natural, da paisagem construída, elementos móveis e humanos etc.) e outros aspectos ou particularidade representados no mapa;
  • Correlação dos elementos mapeados: estabelece a codificação das mensagens veiculadas ao mapa a partir da análise das representações e do referencial teórico;
  • Sintetização dos elementos mapeados: a partir da correlação estabelecida, sintetizam-se as informações obtidas de modo a resumir as mensagens mapeadas.

Por fim, convém destacar que o desenvolvimento de mapas mentais pode ser interessante em trabalhos nos quais desvendar a relação entre pessoas e espaços receba importância, como na educação ambiental, arquitetura e orientação espacial, por exemplo (ver figura 3).

Figura 3: Mapa mental do Estado do Ceará. Notam-se as semelhanças entre as representações e o mapa tradicional do estado. Fonte: SEEMANN, 2003a. 
REFERÊNCIAS

KOZEL, Salete Teixeira. Mapas mentais - uma forma de linguagem: perspectivas metodológicas. In: KOZEL, S; FILHO, S. F. (orgs) Da percepção e cognição à representação: reconstruções teóricas da Geografia Cultural e Humanista. São Paulo: Terceira Margem – EDUFRO, 2007.

MALANSKI, Lawrence Mayer. Geografia escolar e paisagem sonora. RA ‘E GA, Curitiba: n. 22, 2011. p. 252-273.
Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/raega/article/view/21775
Acesso em: 08 out. 2013.

MOREIRA, Marco Antonio. Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Revista Chilena de Educação Científica, San Tiago: n. 4, v. 2, 2005. p. 38-44.

NUNES, Juliana Souza. O uso pedagógico dos mapas conceituais no contexto das novas tecnologias. International Journal of Collaborative Open Learning, 01 jul. 2009.
Disponível em: http://labspace.open.ac.uk/mod/resource/view.php?id=365568
Acesso em: 08 out. 2013.

SEEMANN, Jörn. Mapas e percepção ambiental: do mental ao material e vice-versa. OLAM: Ciência e Tecnologia, Rio Claro: n. 1, v. 3, 2003. p. 200 – 223.

SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, A. F. (Org). A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999, p. 92-108.

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