O fascínio do ser humano diante do céu estrelado faz parte de nossa natureza. Através do hábito de observar o céu, o ser humano primitivo constatou uma série de fenômenos que, mais tarde, possibilitou prever os ciclos naturais, as épocas de coleta, de plantio e colheita. Para facilitar a transmissão deste conhecimento para seus descendentes e na tentativa de explicar o porquê destes fenômenos, o homem desenhou o céu, colocando seus deuses, objetos sagrados, heróis, vilões e etc, através de um “jogo” de ligue os pontos. Cada civilização tinha sua cultura particular e também sua própria maneira de retratar o céu. Farei aqui um breve relato histórico sobre os desenhos da astronomia tradicional, deixando as discussões sobre outras culturas para outros textos.
Não há como estabelecer uma origem para o hábito humano de “desenhar” no céu. O que podemos fazer, mesmo que grosseiramente, é estimar um período para o início desta atividade, baseados em fontes muito escassas, que muitas vezes aparentam ser um enorme quebra-cabeças com muitas peças ainda não encontradas.
Figura 1 - Ursa Maior. Fonte: Parque da Ciência. |
As investigações realizadas nos levam à cerca de 20.000 a.C., nos primórdios da civilização humana que, nesta época, era nômade, vivendo à base da pesca, caça e coleta de alimentos. Algumas pinturas rupestres e marcações em relevo datadas desta época (e o mais interessante, em várias partes do mundo), exibem uma figura semelhante a um urso junto de uma configuração de pontos. Tal disposição sugere que o desenho mais antigo imaginado no céu era a atual Ursa Maior (figura 1). Outros, à procura de evidências mais concretas, consideram a ilustração chamada Boötes (figura 2) ou, Boieiro, como a mais antiga das atuais, sendo citada pela primeira vez na obra do poeta grego Homero, A Odisséia, por volta do século XI a.C.
Por volta de 3000 a.C. povos da mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, sendo que atualmente é território do Iraque), mais especificamente os sumérios e babilônios, idealizaram um grupo de doze desenhos localizados no “caminho do Sol”. Este conjunto recebeu o nome de zodíaco (caminho de animais) ou faixa zodiacal. Acreditavam que estas ilustrações influenciariam as características físicas, sociais e financeiras das pessoas, pois cada um estaria, através de sua data de nascimento, vinculado a uma determinada figura.
Figura 3 - Zodíaco de Denderah. |
Os egípcios também imaginaram seus desenhos, herdando alguns das culturas suméria e babilônica, mas também com influência grega, em torno de 1000 a.C. Alguns exemplos de ilustrações egípcias estão no teto do Templo de Esneh, em Denderah, durante as incursões de Napoleão Bonaparte. É chamado de zodíaco de Denderah (figura 3).
A partir do poeta grego Arauto de Solos (310 – 240 a.C), os desenhos imaginados no céu receberam o nome de constelação. Este vocábulo deriva do latim constellatione, que significa reunião de astros, segundo o dicionário Aurélio.
Por volta de 150 a.C., o astrônomo egípcio Claudius Ptolomeu (figura 4), que viveu entre 100 e 170 depois de Cristo, criou a primeira compilação significativa a respeito da Astronomia e, em particular, das constelações, chamada de O Almagesto. Nos 13 volumes de sua obra, Ptolomeu descreve seu modelo de sistema solar, embasado nas idéias heliocêntricas propostas por Aristóteles, cerca de 300 anos antes, além de relacionar 1022 estrelas e 48 constelações ligadas às culturas babilônica, egípcia e grega. Tal composição tornou-se um dos pilares da Astronomia por cerca de 1400 anos, sendo superada somente com a revolução promovida por Copérnico, Kepler, Galileu e Newton. As 48 constelações estão descritas na tabela 1, de acordo com seus nomes em latim e em português.
A partir do poeta grego Arauto de Solos (310 – 240 a.C), os desenhos imaginados no céu receberam o nome de constelação. Este vocábulo deriva do latim constellatione, que significa reunião de astros, segundo o dicionário Aurélio.
Figura 4 - Claudius Ptolomeu. |
Andrômeda
Andrômeda
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Aquarius
Aquário
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Áquila
Águia
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Ara
Altar
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Argus
Argos
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Áries
Áries
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Auriga
Cocheiro
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Boötes
Boieiro
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Cancer
Câncer
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Canis Major
Cão
Maior
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Canis Minor
Cão
Menor
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Capricornius
Capricórnio
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Cassiopeia
Cassiopéia
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Centaurus
Centauro
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Cepheus
Cefeu
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Cetus
Baleia
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Corona Autralis
Coroa
Austral
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Corona Borealis
Coroa
Boreal
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Equuleus
Cavalo
Menor
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Crater
Taça
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Cygnus
Cisne
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Corvus
Corvo
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Delphinus
Golfinho
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Draco
Dragão
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Hydra
Hidra
Fêmea
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Gemini
Gêmeos
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Hercules
Hércules
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Eridanus
Eridano
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Leo
Leão
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Lepus
Lebre
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Pegasus
Pégasus
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Lupus
Lobo
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Lyra
Lira
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Ophiucus
Ofíuco
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Orion
Órion
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Libra
Balança
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Piscis Austrinos
Peixe
Austral
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Perseus
Perseu
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Scorpius
Escorpião
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Sagitta
Flecha
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Sagittarius
Sagitário
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Pisces
Peixes
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Taurus
Touro
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Serpens
Serpente
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Triangulum
Triângulo
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Virgo
Virgem
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Ursa Minor
Ursa
Menor
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Ursa Major
Ursa
Maior
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Na próxima parte, daremos um salto para a época das grandes navegações, onde um "novo céu" servirá de tela de pintura para novas constelações!
REFERÊNCIAS:
MILONE, André de Castro. Introdução à Astronomia e a Astrofísica. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São José dos Campos, 2003.
MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Livro de Ouro do Universo. Rio de Janeiro. Ediouro, 2001.
SAGAN, Carl. Cosmos. Tradução: Angela do Nascimento Machado; revisão técnica de Airton Lugarinho de Lima. Francisco Alves Editora. Rio de Janeiro, 1992.
http://astro.if.ufrgs.br
http://www.aao.gov.au/
http://www.iau.org/
http://www.nasa.gov/
http://www.zenite.nu/
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