Uma história das Constelações Ocidentais - Parte I!

Por Anisio Lasievicz

O fascínio do ser humano diante do céu estrelado faz parte de nossa natureza. Através do hábito de observar o céu, o ser humano primitivo constatou uma série de fenômenos que, mais tarde, possibilitou prever os ciclos naturais, as épocas de coleta, de plantio e colheita. Para facilitar a transmissão deste conhecimento para seus descendentes e na tentativa de explicar o porquê destes fenômenos, o homem desenhou o céu, colocando seus deuses, objetos sagrados, heróis, vilões e etc, através de um “jogo” de ligue os pontos. Cada civilização tinha sua cultura particular e também sua própria maneira de retratar o céu. Farei aqui um breve relato histórico sobre os desenhos da astronomia tradicional, deixando as discussões sobre outras culturas para outros textos. 

Não há como estabelecer uma origem para o hábito humano de “desenhar” no céu. O que podemos fazer, mesmo que grosseiramente, é estimar um período para o início desta atividade, baseados em fontes muito escassas, que muitas vezes aparentam ser um enorme quebra-cabeças com muitas peças ainda não encontradas.

Figura 1 - Ursa Maior. Fonte: Parque da Ciência.
As investigações realizadas nos levam à cerca de 20.000 a.C., nos primórdios da civilização humana que, nesta época, era nômade, vivendo à base da pesca, caça e coleta de alimentos. Algumas pinturas rupestres e marcações em relevo datadas desta época (e o mais interessante, em várias partes do mundo), exibem uma figura semelhante a um urso junto de uma configuração de pontos. Tal disposição sugere que o desenho mais antigo imaginado no céu era a atual Ursa Maior (figura 1). Outros, à procura de evidências mais concretas, consideram a ilustração chamada Boötes (figura 2) ou, Boieiro, como a mais antiga das atuais, sendo citada pela primeira vez na obra do poeta grego Homero, A Odisséia, por volta do século XI a.C. 

Figura 2 - Boötes. Fonte: Parque da Ciência.
Por volta de 3000 a.C. povos da mesopotâmia (região entre os rios Tigre e Eufrates, sendo que atualmente é território do Iraque), mais especificamente os sumérios e babilônios, idealizaram um grupo de doze desenhos localizados no “caminho do Sol”. Este conjunto recebeu o nome de zodíaco (caminho de animais) ou faixa zodiacal. Acreditavam que estas ilustrações influenciariam as características físicas, sociais e financeiras das pessoas, pois cada um estaria, através de sua data de nascimento, vinculado a uma determinada figura.

Figura 3 - Zodíaco de Denderah.
Os egípcios também imaginaram seus desenhos, herdando alguns das culturas suméria e babilônica, mas também com influência grega, em torno de 1000 a.C. Alguns exemplos de ilustrações egípcias estão no teto do Templo de Esneh, em Denderah, durante as incursões de Napoleão Bonaparte. É chamado de zodíaco de Denderah (figura 3).

A partir do poeta grego Arauto de Solos (310 – 240 a.C), os desenhos imaginados no céu receberam o nome de constelação. Este vocábulo deriva do latim constellatione, que significa reunião de astros, segundo o dicionário Aurélio.

Figura 4 - Claudius Ptolomeu.
Por volta de 150 a.C., o astrônomo egípcio Claudius Ptolomeu (figura 4), que viveu entre 100 e 170 depois de Cristo, criou a primeira compilação significativa a respeito da Astronomia e, em particular, das constelações, chamada de O Almagesto. Nos 13 volumes de sua obra, Ptolomeu descreve seu modelo de sistema solar, embasado nas idéias heliocêntricas propostas por Aristóteles, cerca de 300 anos antes, além de relacionar 1022 estrelas e 48 constelações ligadas às culturas babilônica, egípcia e grega. Tal composição tornou-se um dos pilares da Astronomia por cerca de 1400 anos, sendo superada somente com a revolução promovida por Copérnico, Kepler, Galileu e Newton. As 48 constelações estão descritas na tabela 1, de acordo com seus nomes em latim e em português.


Andrômeda
Andrômeda
Aquarius
Aquário
Áquila
Águia
Ara
Altar
Argus
Argos
Áries
Áries
Auriga
Cocheiro
Boötes
Boieiro
Cancer
Câncer
Canis Major
Cão Maior
Canis Minor
Cão Menor
Capricornius
Capricórnio
Cassiopeia
Cassiopéia
Centaurus
Centauro
Cepheus
Cefeu
Cetus
Baleia
Corona Autralis
Coroa Austral
Corona Borealis
Coroa Boreal
Equuleus
Cavalo Menor
Crater
Taça
Cygnus
Cisne
Corvus
Corvo
Delphinus
Golfinho
Draco
Dragão
Hydra
Hidra Fêmea
Gemini
Gêmeos
Hercules
Hércules
Eridanus
Eridano
Leo
Leão
Lepus
Lebre
Pegasus
Pégasus
Lupus
Lobo
Lyra
Lira
Ophiucus
Ofíuco
Orion
Órion
Libra
Balança
Piscis Austrinos
Peixe Austral
Perseus
Perseu
Scorpius
Escorpião
Sagitta
Flecha
Sagittarius
Sagitário
Pisces
Peixes
Taurus
Touro
Serpens
Serpente
Triangulum
Triângulo
Virgo
Virgem
Ursa Minor
Ursa Menor
Ursa Major
Ursa Maior

Na próxima parte, daremos um salto para a época das grandes navegações, onde um "novo céu" servirá de tela de pintura para novas constelações!


REFERÊNCIAS:

MILONE, André de Castro. Introdução à Astronomia e a Astrofísica. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São José dos Campos, 2003.

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Livro de Ouro do Universo.  Rio de Janeiro. Ediouro, 2001.

SAGAN, Carl. Cosmos. Tradução: Angela do Nascimento Machado; revisão técnica de Airton Lugarinho de Lima. Francisco Alves Editora. Rio de Janeiro, 1992.

http://astro.if.ufrgs.br

http://www.aao.gov.au/

http://www.iau.org/

http://www.nasa.gov/

http://www.zenite.nu/

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